EMPODERAMENTO INFANTIL


EMPODERAMENTO INFANTIL

Como chegamos a este ponto?
Até aproximadamente os anos 60, a educação dos filhos seguia um modelo sólido, não existiam dúvidas nem questionamentos acerca deste tema. Se tratava de um modelo repressor e autoritário, sem espaço para o diálogo ou negociações. No entanto, a educação era um terreno firme, com um caminho claro a trilhar.
Nos anos 60, com a ditadura e o movimento jovem de luta pela liberdade de expressão, o modelo de educação existente passou a ser fortemente criticado e culpabilizado por produzir uma série de “traumas” nos filhos. Os adultos da época refletiam sobre o tema e sabiam exatamente como não queriam educar. Mas então qual seria o melhor caminho a trilhar? Até hoje nenhum modelo foi colocado no lugar. E deixamos o autoritarimo dos pais para cair na tirania dos filhos.
O sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman faz uma análise dos tempos atuais, nomeando-os de tempos líquidos. Nada mais é sólido, duradouro. Vivemos no tempo dos descartáveis. Podemos associar esta ideia a alguns pensamentos do Psicólogo Yves de la Taille sobre estarmos vivendo um “eterno presente”, no qual o passado é descartado como obsoleto e o futuro é temido como catastrófico, a destruição do planeta. Essa prisão no presente, tem feito com que as pessoas vivam intensamente a expressão “carpe diem”, ou seja, aproveite o tempo presente, usufruindo os momentos intensamente sem pensar muito no que o futuro reserva. Livros de auto-ajuda, programas televisivos e a mídia de forma geral alimentam a ideia de que nada pode esperar, temos que ser felizes a cada minuto como se fosse o último.
E assim, pais não planejam mais um futuro para os seus filhos baseado nas responsabilidade e compromissos do amadurecimento, mas acreditam que ser bom pai significa fazer os seus filhos felizes a qualquer custo, transformando-os em “príncipes e princesas” que reinam na casa. Essa felicidade idealizada pelas famílias e que naturalmente jamais será alcançada, está criando gerações de crianças, adolescentes e adultos com nível extramamente baixo de tolerância à frustração e por isso cada vez mais predispostos a comportamentos de auto-mutilação e ao suicídio.
Precisamos urgentemente resgatar a resiliência (capacidade de retornar à forma após ter sido submetido a pressão), a empatia (capacidade psicológica de sentir o que uma outra pessoa sente numa determinada situação) e a responsabilidade.
Autonomia e responsabilidade são interdependentes. Não consigo desenvolver responsabilidade se não tiver autonomia e não desenvolverei boa autonomia se não for responsável. A superproteção advinda da dificuldade de frustrar os filhos e em consequência “não fazê-los felizes naquele momento” e também do nosso contexto social atual de extrema violência urbana, tem feito com que as famílias não desenvolvam a autonomia e a responsabilidade dos futuros adolescentes. Crianças de 6 anos de idade entram no Ensino Fundamental sem saber amarrar os sapatos, fazer a higiene pessoal, não comem ou dormem sozinhos, não ajudam nos afazeres da casa arrumando seus brinquedos, sua cama, colocando a roupa suja no cesto e a louça na pia. Como podem ser cobrados de ter responsabilidade com os estudos, com os seus materiais que serão muitos, e autonomia para os compromissos em calendário, se não estão desenvolvendo autonomia e responsabilidade dentro de suas casas?


Estudos da Neurociência comprovam que a autorregulação e as funções executivas (controle inibitório, flexibilidade mental e memória de trabalho) são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais (para a vida) e de habilidades para a aprendizagem. Está a comprovação científica da importância da consistência dos limites. E não haverá consistência nos limites, já dizia a Psicóloga Maria Teresa Maldonado, se não houver convergência dos três canais de comunicação: fala, ação e expressão corporal. Pense que quando a palavra não combina com a ação e a expressão corporal, o primeiro a cair em descrédito é a palavra. Ou seja, o ditado “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço” não vale na educação dos filhos.
Numa sociedade competitiva, consumista e individualista, na qual valores como ética, empatia, solidariedade, cooperação, tem sido deixados de lado em função da meta do sucesso, “ser o melhor”, auxiliar na formação da criança, construindo autonomia, assertividade, espírito crítico, possibilidade de competir, valorizando a capacidade de escolha e de liderança, mas ajudando-a a desenvolver valores éticos, morais e de respeito ao próximo, tem sido um grande desafio.
Gostaria de concluir os meus pensamentos com uma frase que ouvi numa palestra do Psicólogo Léo
Fraiman: “Seu filho não precisa ser o melhor do mundo e sim o melhor para o mundo”. Pense nisso!


Rita de Cássia Melo
@espaco.liberi
(Psicóloga Clínica na abordagem Cognitivo-Comportamental, especializada em crianças e adolescentes / Psicóloga Escolar / Psicomotricista / Consultora em Desenvolvimento Infantil)

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